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RACISMO ESTRUTURAL NO FUTEBOL

Roger e Marcão (técnicos do Bahia e do Fluminense, respectivamente):
Imagem que lançou luz sobre a polêmica do Racismo Estrutural no Futebol.



“A REGRA É CLARA”, RACISMO É CRIME!

O Racismo volta a protagonizar no futebol. Dessa vez entra em campo a identificação do Racismo Estrutural. Entenda um pouco sobre esse fenômeno.

Entenda o que é racismo estrutural.
Racismo estrutural é a formalização de um conjunto de práticas institucionais, históricas numa sociedade, que frequentemente coloca um grupo social ou étnico numa posição favorável para ter sucesso, ao passo que constantemente prejudica outros grupos, causando desequilíbrio, muitas vezes irreparáveis numa sociedade. Essa modalidade de racismo não se trata de uma prática individual e sim coletiva, organizada e sistêmica.
Segundo o professor Sílvio Almeida, no livro: O que é Racismo Estrutural? Detêm o poder, os grupos que exercem o domínio sobre a organização política e econômica da sociedade. Entretanto, a manutenção deste poder adquirido, depende da capacidade do grupo dominante de institucionalizar seus interesses, impondo regras, padrões de conduta e modos de racionalidade que tornam “normal” e “natural” o seu domínio na sociedade.
Depois de ser questionado por uma repórter na coletiva, após o jogo do Bahia contra o Fluminense, sobre o encontro dos dois únicos treinadores negros, do campeonato brasileira da série A, o treinador do Bahia, Roger Machado, usou de toda sua lucidez e conhecimento sobre a questão étnico racial, algo raro no futebol, para responder à repórter: "Essa é a prova que existe o preconceito, porque é algo que chama atenção. À medida que a gente tenha mais de 50% da população negra e a proporcionalidade não é igual, a gente tem que refletir e se questionar. Se não é há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que a população carcerária, 70% dela é negra? Por que quem morre são os jovens negros no Brasil? Por que os menores salários, entre negros e brancos, são para os negros? Entre as mulheres negras e brancas, são para as negras? Por que, entre as mulheres, quem mais morre são as mulheres negras? Há diversos tipos de preconceito. Nas conquistas pelas mulheres, por exemplo, hoje nós vemos mulheres no esporte, como você (a repórter que fez a pergunta), mas quantas mulheres negras têm comentando esporte? Nós temos que nos perguntar. Se não há preconceito, qual a resposta? Para mim, nós vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado. A gente precisa falar sobre isso. Precisamos sair da fase da negação. Nós negamos. 'Ah, não fala sobre isso'. Porque não existe racismo no Brasil em cima do mito da democracia racial. Negar e silenciar, é confirmar o racismo. Minha posição como negro na elite do futebol é para confirmar isso. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou no restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: Não há racismo, está vendo? Vocês está aqui. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui".
O conteúdo da resposta do treinador evidencia a estruturação do racismo institucional e traz à luz uma realidade pouco discutida no futebol.
Vamos conhecer alguns números do mundo futebolístico: O Campeonato Brasileiro de Futebol, séries A e B, é composto por 40 equipes, das quais apenas duas delas seus técnicos são negros (Fluminense e Bahia). Nenhuma delas tem um negro como presidente; no entanto, mais de 70% dos jogares dessas equipes são pretos ou pardos, seguindo a classificação do IBGE, negros; em 100 funcionários dessas quarenta equipes, em cargo de direção, apenas 3 são negros.
A forma estrutural de racismo tende a ser ainda mais perigosa por ser de difícil percepção. Trata-se de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplos duas situações:
a)    O acesso de negros e indígenas a locais que foram por muito tempo, espaços exclusivos da elite, como universidades. O número de negros com acesso aos cursos superiores de Medicina no Brasil, antes das leis de cotas, era ínfimo, ao passo que a população negra estava relacionada, em sua maioria, à falta de acesso à escolaridade, à pobreza e à exclusão social.
b)    Falas e hábitos pejorativos incorporados ao nosso cotidiano tendem a reforçar essa forma de racismo, visto que promovem a exclusão e o preconceito mesmo que indiretamente. Essa forma de racismo manifesta-se quando usamos expressões racistas, mesmo que por desconhecimento de sua origem, como a palavra “denegrir”. Também acontece quando fazemos piadas que associam negros e indígenas a situações vexatórias, degradantes ou criminosas ou quando desconfiamos da índole de alguém por sua cor de pele. Outra forma de racismo estrutural muito praticado, mesmo sem intenção ofensiva, é a adoção de eufemismos para se referir a negros ou pretos, como as palavras “moreno” e “pessoa de cor”. Essa atitude evidencia um desconforto das pessoas, em geral, ao utilizar “negro” ou “preto”, pelo estigma social que a população negra recebeu ao longo dos anos. Porém, ser negro ou preto não é motivo de vergonha, pelo contrário, deve ser encarado como motivo de orgulho, o que derruba a necessidade de se “suavizar” as denominações étnicas com eufemismos.
Deu para entender um pouco o que é racismo estrutural, institucionalizado?

Eufrate Almeida - MTB 72.842-SP