REBOUÇAS: POR QUE EXISTEM UM AVENIDA EM SÃO PAULO, UM TÚNEL NO RIO DE JANEIRO, UMA RUA E UM BAIRRO EM CURITIBA COM ESTE NOME?
A origem da Ferrovia Paranaguá-Curitiba está diretamente atrelada aos irmãos Rebouças, os primeiros engenheiros negros do Brasil. Filhos de pai autodidata e netos de escrava alforriada, casada com um alfaiate da corte portuguesa, eles tiveram a oportunidade de estudar na Europa e especializar-se em engenharia no Rio de Janeiro em pleno período de escravidão.
Devido à sua alta complexidade, os trabalhos foram
executados por milhares de homens em três trechos simultâneos: entre Paranaguá
e Morretes (42 km), entre Morretes e Roça Nova (38 km) e entre Roça Nova e
Curitiba (30 km).
Foi em 1865, que André Rebouças, observando um mapa, notou que a cidade de Antonina, situada no litoral paranaense, ficava na mesma linha de Assunção, no Paraguai. Neste momento, como um visionário em termos de logística e engenharia, ele teve a inspiração de construir uma estrada que ligasse as duas cidades, o que contribuiria significativamente para o desenvolvimento econômico da região.
Na época, a ideia não prosperou
por conta da guerra da Tríplice Aliança, onde Brasil, Uruguai e Argentina
lutavam contra o Paraguai. Mas, anos depois, senhores do mate e políticos
voltaram a argumentar sobre a necessidade que tinham de levar a erva mate para
o litoral, uma vez que o transporte terrestre era limitado aos animais de carga
e que não existia nenhuma estrada que ligasse Curitiba à Costa.
Por isso, em 1873, Antônio
Pereira Rebouças Filho, irmão de André Rebouças, entregou ao presidente da
província do Estado do Paraná, o projeto de construção da Estrada de Ferro Dona
Isabel, uma ferrovia que ligaria a cidade de Antonina à capital Curitiba,
seguindo o mesmo traçado idealizado em 1865.
Infelizmente, Antônio Rebouças
faleceu de malária no ano seguinte, em 1874, e o projeto então passou para as
mãos de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, empreendedor brasileiro
que construiu a primeira ferrovia do Brasil, ligando o Rio de Janeiro a
Petrópolis.
Em 1875, houve uma disputa
local entre Antonina e Paranaguá e, por decreto imperial, ficou decidido que a
ferrovia não mais partiria de Antonina, como definido no projeto inicial, mas,
sim, de Paranaguá.
O início das obras ocorreu com
a presença do Imperador Dom Pedro II, que lançou a pedra fundamental da
construção em Paranaguá, no dia 05 de junho de 1880.
Atendendo a um pedido especial dos irmãos Rebouças, o Imperador proibiu a utilização de mão de obra escrava na construção da ferrovia. Se houve algum escravo trabalhando na construção, ele foi remunerado pelos serviços prestados. Os principais trabalhadores eram imigrantes poloneses, alemães e italianos.
Em 1883, o trecho que liga
Paranaguá a Morretes foi totalmente concluído e inaugurado.
Em 1884, a Ponte São João foi
montada e a Princesa Isabel, junto com a comitiva real, fez a viagem completa
de Paranaguá para Curitiba, no dia 16 de novembro.
Fonte: Amantes da Ferrovia