MODELOS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS
Por: Eufrate Almeida – MTB 72842-SP
Artigo
publicado em Afropress.com - 2/2/2008.
Com os resultados obtidos nas últimas
prévias, para a escolha do candidato ou candidata democrata na corrida pela
Casa Branca, Obama reafirma a sua real possibilidade de sentar-se na cadeira
mais cobiçada do planeta.
Incontestável! Esse é o vocábulo mais
apropriado para definir a vitória de Obama na madrugada de sábado 09/02, sobre
Hillary Clinton, com larga margem de percentual nos Estados de Louisiana,
Nebraska, Washington e nas Ilhas Virgens, locais onde houve prévias.
No discurso proferido por Hillary,
levado ao ar pela CNN, ficou nítido o desapontamento da candidata em saber que
mesmo utilizando de sua principal artilharia, a imagem do ex-presidente Bill
Clinton, não conseguiu impedir o avanço de seu oponente, sofrendo uma dupla
derrota e vendo escorregar, por entre os dedos, a possibilidade de sua
indicação para a disputa em novembro.
Por outro lado, o candidato Obama se
vê aliviado do temor que rondava sua campanha, primeiro pela força política que
a Hillary representa, influenciada pelo posto de Primeira Dama, exercido nos
anos noventa. Além do êxito que poderia obter o ex-presidente, na conquista dos
votos dos afro-americanos, principalmente nos estados do sul – de maioria negra
– pela atuação em seu governo, na implantação de políticas de ação afirmativa,
por meio de Projetos de Leis Executivas, equivalentes às medidas provisórias,
artifício bastante utilizado pelos governos brasileiros.
A dupla vitória de Obama se concretiza
na medida em que, além de derrubar a candidata franca favorita para as prévias
de seu partido, está derrotando o prestígio, o poder e a simpatia do ex-presidente
Clinton.
A vitória de Barack Obama para
Presidente dos Estados Unidos, caso aconteça, será uma fonte de argumentos para
muitas discussões, acerca do formato de discriminação racial praticado nos
Estados Unidos, em contraste com o modelo brasileiro. Muitas pessoas repudiam o
formato norte-americano e defendem o modo dissimulado, praticado aqui;
sustentam a ideia de que o negro brasileiro tem total inserção na sociedade;
usam os casamentos inter-raciais para alegar uma integração étnica e afirmam
que as oportunidades no Brasil são para todos, independentemente da cor da
pele, como se vivêssemos numa democracia racial.
Quando vamos perceber que, no Brasil,
a cor da pele sobrepõe-se à capacidade intelectual? Que a etnia pode ser o
fator preponderante para se ascender a um cargo de chefia em empresa pública ou
privada ou a um alto posto político?
O preconceito brasileiro não
permitiria jamais, que um negro chegasse ao estágio do Senador Barack Obama,
com reais possibilidades de ser o próximo presidente dos Estados Unidos. Basta
olhar para o nosso quadro político, para ter uma ideia do que isso significa. Qual
o número de negros ocupando as cadeiras do Senado? Da Câmara dos Deputados? Das Assembleias Legislativas? Das Prefeituras e dos Governos Estaduais? Fique
atento para o número de vereadores negros em sua cidade!
As diferenças cultural, social e
econômica, provocadas por modelos diferentes de escravização, abolição e
pós-abolição entre o Brasil e os Estados Unidos, sugerem que não façamos
comparações entre as formas de preconceitos raciais existentes entre eles,
correndo o risco de defender uma, em detrimento da outra, quando o mais correto
seria abominá-las.
A era Obama pode provocar uma mudança
na postura dos nossos eleitores e lançar uma luz sobre a inconsciência coletiva
do povo brasileiro. Não podemos esquecer que a população negra norte-americana
é de 13% apenas, enquanto a brasileira supera os 45%, segundo o IBGE.