As mais recentes manifestações de
racismo no futebol provocaram uma inquietação em grande parte da sociedade
brasileira. Artistas, celebridades e pessoas comuns, muitas delas que não acreditavam
na existência do racismo no Brasil, sentiram-se impelidas em defender uma
posição, supostamente antirracista, promovida pela #SOMOSTODOSMACACOS, com larga divulgação e grande
adesão nas redes sociais.
O racismo existe no futebol porque
ele está presente na sociedade.
O estado de espírito ao qual foi
acometido Daniel Alves, ao comer a banana que lhe fora arremessada, é a parte
mais impactante de toda a história, pela naturalidade da ação. Naturalidade
esta, afirmada por ele em entrevista, horas após o ocorrido.
Aos incautos que aderiram à referida hashtag, quero informar, tratar-se de uma
comparação racista e que não contribui em nada para a ideia de uma democracia
étnica. Para tanto, trago alguns relatos, cujo conteúdo expressa toda astúcia e
perversidade fundamentadas por um grupo de cientistas racistas, que utilizavam
a imagem do africano para provar a subumanidade do negro, comparando-o ao
macaco, sustentando a tese da supremacia ariana.
Um episódio que ganhou destaque na
comunidade científica e divulgado ao mundo, é a história de Ota Benga. Em 1904,
o missionário Americano, Samuel Phillips Verner, levou aos Estados Unidos oito
pigmeus congoleses, incluindo Ota Benga, à Feira Mundial da Ciência de St.
Louis, a fim de exibi-los ao departamento de antropologia do evento. Em 1906,
Ota foi colocado em exposição numa jaula com orangotangos, no zoológico do
Bronx, em Nova York, cuja alimentação era bananas, arremessadas pelos
visitantes.
Ota aproximou-se dos primatas e fez
amizade a ponto de passar a maior parte do tempo brincando e interagindo com
eles. A figura emblemática desse pigmeu é exibida segurando um macaco no colo,
como se fora uma criança, um filho. Com a proximidade identificada entre os
dois seres, a tese teve como resultado a subumanidade do negro, pela afinidade
observada no relacionamento entre as espécimes.
Após a divulgação dessa tese, a
Alemanha de Hitler foi um dos países que adotaram a prática racista, de manter
famílias africanas enjauladas, expostas em zoológicos e, assim, incutir na
memória dos visitantes a ideia da subumanidade do negro, comparando-os aos
primatas, dando ideia de um ser sem alma e com baixo grau de inteligência.
Essa história é a visão trágica
da bestialidade de um grupo que expressa o racismo, a exploração humana e o
abuso científico.
Sem falar nem entender uma só palavra
do inglês e dos demais idiomas europeus, Ota demorou, aproximadamente, dez anos
para entender o que se passava e a que papel ele prestava, quando cometeu
suicídio, em 1916.
Essa história compõe o documentário “The
Human Zoo” além dos
livros: The Forest People, de autoria de Colin Turnbull's e Canisius Coll,
Buffalo, de H. James Birx.
Bem que o famigerado slogan “somos
todos macacos”, pudesse vir de um lampejo de raciocínio lógico de Neymar,
acerca da teoria evolucionista, que afirma que o homo sapiens descende do
primata. Entretanto, como é do conhecimento de quem acompanhou o desfecho dessa
ocorrência, sabe que a afirmativa foi resultado de uma jogada de marketing,
arquitetada por uma agência de publicidade, partindo de uma ideia oportunista,
apenas esperando a hora certa para ser lançada e culminou no episódio com o
Daniel Alves, que inclusive repudia a ideia da hashtag.
A atitude de comer bananas, em alusão
ao que fez Daniel Alves, pode ser positiva, contudo, a afirmativa de que “Somos
Todos Macacos” é um raciocínio pernicioso, racista e não cabe fazer defesa
alguma desse pensamento, pois, quem a faz não tem conhecimento histórico ou
científico sobre o assunto, tampouco mensura a carga que a população negra
suporta, causada pelo racismo, que no Brasil, na maioria das vezes é mascarado
ou cordial.
O fato de uma pessoa consumir o
alimento preferido de uma determinada espécie animal, não lhe faz um deles.
A prática de atirar bananas em
jogadores negros, manifestada nos campos de futebol ao redor do mundo, passa
pela ação neonazista a que fora submetido Ota Benga, perpetuada de geração em
geração, incutida na memória racista dessas pessoas.
Não somos macacos! Da mesma forma que
os macacos não são humanos!
Por: Eufrate Almeida
MTB - 72.842-SP
Matéria publicada em afropress.com 09/05/2014