A pele
negra tem características próprias: maior quantidade e distribuição de
melanina, camadas da pele mais compactas e uma resposta inflamatória diferente.
Essas diferenças influenciam a forma como a pele cicatriza, reage a produtos e
manifesta certas doenças.
Reconhecer
essas especificidades é essencial para oferecer um cuidado baseado em ciência,
eficaz e realmente inclusivo, já que a população negra ainda é pouco
representada nas pesquisas médicas e nas imagens usadas para ensinar
dermatologia.
Para fala sobre este tema a Conexão Black Brasil convidou a dermatologista, Dra. Najara Gomes, especialista em pele negra, que nos deu uma entrevista esclarecedora sobre o assunto.
A pele negra envelhece de forma diferente da pele branca?
Sim. A pele negra tende a
envelhecer mais lentamente do que a pele branca, principalmente por ter uma
maior concentração de melanina, que é pigmento que dá cor à pele e a protege
parcialmente dos danos causados pela radiação solar.
Essa proteção natural retarda o
aparecimento de rugas finas e linhas de expressão.
Além disso, a pele negra costuma
ter camadas mais espessas e fibras de colágeno mais densas, o que contribui
para uma aparência firme e viçosa por mais tempo.
Apesar disso, o processo de
envelhecimento não é ausente, mas se manifesta de forma diferente,
principalmente por meio de manchas escuras (hiperpigmentação) e alterações no
contorno facial.
Por isso, o uso diário de protetor solar com cor, antioxidantes e tratamentos que estimulam o colágeno, sempre respeitando as particularidades da pele, ajudam a manter o equilíbrio e a saúde cutânea ao longo dos anos.
Embora tenha uma resistência maior à radiação solar, a pele negra apresenta tendência à hiperpigmentação e à formação de queloides. Quais cuidados e tratamentos devem ser priorizados para prevenir ou amenizar esses efeitos?
A maior tendência a desenvolver
manchas e queloides ocorre devido às suas particularidades biológicas.
Os melanócitos, células que
produzem a melanina, são mais ativos e reativos nesse tipo de pele. Isso faz
com que qualquer processo inflamatório – como espinhas, feridas, depilação,
picadas ou até procedimentos estéticos – possa resultar em manchas escuras,
conhecidas como hiperpigmentação pós-inflamatória (HPI).
Além disso, a resposta
cicatricial também é mais intensa, o que aumenta o risco de formação de
queloides – cicatrizes elevadas e endurecidas causadas por um excesso de
colágeno durante o processo de reparo da pele.
A prevenção dessas alterações
inclui evitar manipular espinhas ou feridas; usar diariamente protetor solar
com cor/com proteção contra a luz visível (que é um dos fatores que mais
agravam as manchas na pele negra); escolher profissionais capacitados para
realizar procedimentos estéticos.
O tratamento para as manchas pode
incluir antioxidantes e agentes uniformizadores - sempre com acompanhamento
médico.
Para os queloides, o tratamento
pode envolver uso de corticoides intralesionais ou tópico; fitas ou géis de
silicone, crioterapia, cirurgia e até lasers.
Essas abordagens devem ser individualizadas, respeitando o tom da pele, o tipo de lesão e a história clínica do paciente.
Estudos recentes mostram que mais da metade da população negra no Brasil nunca consultou um(a) dermatologista. Que impactos essa falta de acesso tem na saúde da pele e na autoestima da população negra?
A falta de acesso a
dermatologistas tem impactos diretos na saúde da pele e na autoestima da
população negra.
De acordo com um levantamento do
Datafolha em parceria com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e o
L’Oréal Groupe, divulgado em 2025, 58% das pessoas negras no Brasil afirmaram
nunca ter feito uma consulta com dermatologista. Esse dado reflete
desigualdades históricas no sistema de saúde e uma formação médica ainda pouco
voltada às especificidades da pele negra.
No campo emocional, a falta de
acolhimento e de representatividade no atendimento afeta a autoestima e a
confiança dos pacientes negros. Pesquisas internacionais reforçam esse aspecto:
um estudo publicado em 2024 no International Journal of Women’s Dermatology
mostrou que dois terços dos pacientes negros preferem ser atendidos em clínicas
especializadas, onde se sentem melhor compreendidos e representados.
Esses dados reforçam que o acesso a dermatologistas preparados para atender diferentes tons e tipos de pele não é apenas uma questão estética – é uma questão de saúde pública e de equidade racial.
Nos últimos anos, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) criou departamentos específicos para discutir a dermatologia étnica. Em sua visão, o que ainda falta avançar para que os cuidados com a pele negra estejam plenamente incluídos na formação médica e nas políticas públicas?
A criação do Departamento de
Dermatologia Étnica pela SBD-RJ foi um passo fundamental e histórico. Pela
primeira vez, uma regional da Sociedade Brasileira de Dermatologia reconheceu,
de forma institucional, a importância de discutir as particularidades da pele
negra e dos diferentes fototipos, estimulando o ensino, a pesquisa e o cuidado
clínico com base científica e representativa.
Nos últimos anos, também vimos
avanços práticos, como a consolidação de novos ambulatórios de pele negra além
do Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay (Santa Casa do Rio de
Janeiro), em São Paulo, no Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM) e no
Hospital Ipiranga.
Esses espaços têm papel essencial na formação de residentes e na geração de conhecimento aplicado, além de contribuírem para a assistência qualificada à população negra.
Envelhecer com pele negra é um ato de resistência porque, durante muito tempo, a beleza e o envelhecimento foram mostrados com base apenas em padrões eurocentricos.
A dermatologia tem o dever de
mudar essa visão, reconhecendo que a pele negra tem características próprias e
que o cuidado deve valorizar essas particularidades e não tentar apagá-las.
Do ponto de vista médico, sabemos
que a pele negra tem particularidades e isso exige protocolos específicos e
produtos adaptados. Por isso, o tratamento deve ser pensado para realçar e
preservar a saúde da pele com cuidados que respeitem o tom e suas necessidades.
Nos últimos anos, a dermatologia
tem avançado nesse diálogo.
Hoje, já vemos pesquisas clínicas
que incluem peles de diferentes tons, produtos desenvolvidos para fototipos
altos e mais profissionais negros ensinando, pesquisando e representando o tema
em eventos científicos.
Essas mudanças ajudam a construir
uma medicina mais próxima da realidade e da identidade das pessoas.
Cuidar da pele negra é também valorizar a história e a ancestralidade. É entender que ciência e representatividade andam juntas – e que a beleza da pele negra está justamente na sua diversidade.
Embora tenha uma resistência maior à radiação solar, a pele negra apresenta tendência à hiperpigmentação e à formação de queloides. Quais cuidados e tratamentos devem ser priorizados para prevenir ou amenizar esses efeitos?
A maior tendência a desenvolver
manchas e queloides ocorre devido às suas particularidades biológicas.
Os melanócitos, células que
produzem a melanina, são mais ativos e reativos nesse tipo de pele. Isso faz
com que qualquer processo inflamatório — como espinhas, feridas, depilação,
picadas ou até procedimentos estéticos — possa resultar em manchas escuras,
conhecidas como hiperpigmentação pós-inflamatória (HPI).
Além disso, a resposta
cicatricial também é mais intensa, o que aumenta o risco de formação de
queloides — cicatrizes elevadas e endurecidas causadas por um excesso de
colágeno durante o processo de reparo da pele.
A prevenção dessas alterações
inclui evitar manipular espinhas ou feridas; usar diariamente protetor solar
com cor/com proteção contra a luz visível (que é um dos fatores que mais
agravam as manchas na pele negra); escolher profissionais capacitados para realizar
procedimentos estéticos.
O tratamento para as manchas pode
incluir antioxidantes, agentes uniformizadores, agulhamento, peeling e lasers -
sempre com acompanhamento médico.
Para os queloides, o tratamento
pode envolver uso de corticoides intralesionais ou tópico; fitas ou géis de
silicone, crioterapia, cirurgia e até lasers.
Essas abordagens devem ser individualizadas, respeitando o tom da pele, o tipo de lesão e a história clínica do paciente.
Para encerrar: que mensagem a senhora deixa para negras e negros sobre o cuidado com a pele e o envelhecimento saudável, sem se prender a padrões de beleza eurocentrados?
Cuidar da pele é mais do que
vaidade! É saúde, é autocuidado e também uma forma de se reconhecer.
Por muito tempo, pessoas negras
não se viram representadas nas propagandas, nos livros e nem nas conversas
sobre beleza. Isso gerou distorções, como a ideia de que a nossa pele não
precisava de atenção ou que só era bonita quando se aproximava de um padrão que
não nos pertence.
