PÁGINAS


I`M STILL HERE - AINDA ESTOU AQUI LEVA OSCAR DE MELHOR FILME INTERNACIONAL

 



O BRASIL GANHA A ESTATUETA PELA PRIMEIRA VEZ!

"Ainda Estou Aqui": Um marco no cinema e na luta pela democracia

O filme "Ainda Estou Aqui", do diretor Walter Salles, acaba de ser laureado com o Oscar de Melhor Filme Internacional. O filme não apenas conquistou corações e mentes em nível global, mas também afirmou-se como um marco cultural e político de grande importância para o Brasil. Num momento histórico de crescentes tensões políticas e ameaças à democracia, esta vitória ressoa como um poderoso simbolismo de resistência, memória e esperança para o povo brasileiro e além, especialmente em um contexto global onde regimes autoritários ganham força e a desinformação se prolifera.

"Ainda Estou Aqui" é uma obra cinematográfica que encapsula as experiências de indivíduos durante a sombria era da ditadura militar no Brasil (1964-1985). Através de uma narrativa visceral e emocionalmente carregada, o filme traz à tona histórias de resistência, coragem e a incansável busca por justiça e liberdade pela família Rubens Paiva. É uma narrativa que se entrelaça com a realidade de um país que, num passado recente, foi marcado por violações dos direitos humanos, tortura sistemática, desaparecimentos forçados e censura, elementos que o filme aborda com sensibilidade e rigor histórico.

A escolha do filme como vencedor do Oscar sublinha a importância de dar voz às histórias que muitas vezes são silenciadas, marginalizadas ou até mesmo negadas. Num cenário global onde a história pode ser facilmente esquecida ou reescrita, seja por revisionismo histórico ou pela falta de informação, "Ainda Estou Aqui" serve como um lembrete da necessidade de honestidade histórica e da preservação da memória coletiva como forma de prevenir futuros abusos de poder. O filme atua como um "never again" visual, um compromisso de que as atrocidades do passado não devem ser repetidas.

No atual cenário político brasileiro, onde a democracia demonstra fragilidades sob constantes ameaças, a premiação do filme adquire ainda mais significado. Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado ondas de polarização política, discursos de ódio e desafios significativos à estabilidade democrática, incluindo ataques às instituições e tentativas de minar o processo eleitoral. A vitória de "Ainda Estou Aqui" coloca uma lente sobre essas questões, chamando a atenção do mundo para os valores democráticos universais que precisam ser protegidos a qualquer custo.

O filme enfatiza a força da resistência pacífica e do ativismo político em um tempo em que o discurso democrático é infiltrado por narrativas autoritárias, fake news e teorias da conspiração. Os heróis retratados são indivíduos comuns que, através de seus esforços extraordinários, se tornaram símbolos de um movimento maior, aquele pela proteção dos direitos civis e das liberdades fundamentais, como a liberdade de expressão, o direito à reunião e o acesso à justiça. Essa representação inspiradora encoraja não apenas os brasileiros, mas também audiências globais, a refletirem sobre suas próprias responsabilidades na defesa da democracia e no combate à desinformação.

A coroação de "Ainda Estou Aqui" com o Oscar de Melhor Filme Internacional transcende a valorização artística e entra no campo da diplomacia cultural, fortalecendo a imagem do Brasil como um país comprometido com a justiça social e os direitos humanos. Ela insere o Brasil no centro das conversas internacionais sobre arte como ferramenta de mudança social e política, demonstrando o poder do cinema em promover a conscientização e o diálogo sobre questões complexas. Este reconhecimento também proporciona uma plataforma crucial para cineastas independentes e emergentes no Brasil, demonstrando que há espaço e reconhecimento para histórias autênticas que desafiam sistemas opressivos e promovem a reflexão crítica.

Além disso, a vitória contribui para a diversificação das narrativas representadas no cinema mundial. Em tempos de globalização, onde o consumo de filmes se tornou uma janela para outras culturas e realidades, "Ainda Estou Aqui" amplia a compreensão internacional sobre as complexidades sociais e políticas do Brasil, proporcionando uma perspectiva que é muitas vezes negligenciada pela grande mídia. O filme, por exemplo, pode gerar debates sobre a importância da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e seus esforços para investigar as violações de direitos humanos durante a ditadura, um tema central para a reconciliação nacional e a garantia de que tais eventos não se repitam.

"Ainda Estou Aqui" não é apenas um filme; é uma declaração poderosa, um grito uníssono pela manutenção da democracia e dos direitos humanos. Sua aclamação internacional reafirma a importância do cinema como um meio de comunicação vital para refletir e moldar a sociedade. Neste contexto, a vitória deste filme no Oscar não só celebra o talento artístico, mas também ilumina a resiliência humana em tempos sombrios, reiterando a importância da vigilância constante na proteção contra a tirania e o autoritarismo. O filme nos lembra que a luta pela democracia é contínua e que cada indivíduo tem um papel a desempenhar na construção de um futuro mais justo e igualitário.

Com sua vitória, "Ainda Estou Aqui" cativa audiências a acreditarem que, não importa o quão nebuloso o presente se apresente, a esperança e a justiça podem emergir triunfantes — assim como a democracia, que apesar dos desafios, continua a ser uma força indomável de mudança e esperança. O filme serve como um farol, iluminando o caminho para um futuro onde a memória é preservada, a justiça é buscada e a democracia é defendida com unhas e dentes.

Parabéns Walter Salles, Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, Selton Mello e os demais envolvidos! Parabéns ao cinema brasileiro! 

Eufrate Almeida