Do
ponto de vista artístico-musical, a análise sobre o vídeo divulgado nas redes
sociais, quando o cantor Alexandre Pires e convidados, aparecem fantasiados de
gorila, é de extremo mau gosto. Quanto à ofensa étnica, é sabido pela maioria
das pessoas que, associar a imagem do negro à primata, é uma agressão que vem
sistematicamente sendo praticada nos campos de futebol, em países europeus como
Rússia, Itália, Espanha entre outros, com o ato de jogar bananas no gramado,
objetivando desestabilizar emocionalmente os jogadores negros e por fim, tirar vantagem
sobre isso e, invariavelmente, o objetivo é alcançado. As autoridades
esportivas têm tentado, sem êxito, coibir tal prática impondo sanções aos
clubes, aos quais pertencem os torcedores que se utilizam desse artifício.
No
Brasil, até mesmo dentro de campo, não raro, se noticiam episódios em que jogadores
se utilizam do artifício do xingamento com recorte racista, para tirar a
concentração do outro. Haja vista o caso do jogador Grafite, xingado de
“macaco”, pelo atleta argentino Leandro Desábato, num jogo válido pela
Libertadores da América, em 2005, no Morumbi. O agressor ficou preso por dois
dias, em São Paulo, sendo liberado em seguida. Em 2009, no Mineirão, o jogador
Maxi Lópes, também argentino, ao chamar de macaco o volante Elicarlos, do
Cruzeiro, foi denunciado por racismo, mas, nada acontecera com o mesmo. Essas
ações são repugnadas pela mídia, mas não têm sido punidas com o rigor que
merecem, pelas autoridades.
Associar
o primata ao ser humano, do ponto de vista espiritual, é até uma ofensa ao
animal, pois sabemos que eles estão anos luz à nossa frente. Ideologia à parte,
essa associação tem caráter racista e extremamente ofensiva a quem a ela é aplicada.
Em entrevista
ao Fantástico, nesse domingo 13 de maio, dia da abolição da escravatura, o
cantor de “pele escura”, alega: “sou negro e tenho orgulho da minha raça” (leia
etnia), no mesmo momento em que ele dizia ter ficado chocado com as ações de
racismo sofrido pelos jogadores brasileiros e africanos em campos europeus,
especialmente com o Roberto Carlos, do qual é amigo, no episódio em que se
atiram bananas sobre ele, relembrado pelo programa.
Quando
um indivíduo de “pele escura” é promotor de uma ação que evidencia a associação
do negro ao macaco, abre precedentes para fortalecer e ratificar as atitudes
racistas, como as dos campos de futebol, supracitadas e nas verbalizadas,
endereçadas às crianças negras, em escolas brasileiras.
Embora
se tratando de uma pessoa de “pele escura”, considero legítimo que o Movimento
Social Negro reivindique uma ação punitiva ao cantor, por atitude racista, cortando
na própria carne, para que episódios semelhantes não voltem a ocorrer dentro da
própria etnia. Seria aplicar o princípio da reciprocidade: da mesma forma que
um indivíduo pode, com uma atitude consciente ou não, prestar um desserviço à
sua comuna, ele também possa
responder civil e/ou criminalmente, pelos seus atos.
O
que faltou no cantor foi o que chamamos de “Consciência Negra”. Talvez sua consciência
se harmonize com alguns homens negros, que se casam com mulher não negra, para
não terem a sensação de estar presos à escravidão (testemunho de alguns deles) ou para “salvar” a sua prole, pois,
clareá-la, é protegê-la do preconceito por ele sofrido ao longo dos anos (estudos antropológicos). Esse pensamento
medíocre e ordinário se compara ao pensamento de alguns negros ricos, que
acreditam fazer parte de uma camada isenta do preconceito étnico, em razão de
sua condição social.
Por: Eufrate Almeida